Aula pública discute os sentidos e implicações do trabalho por plataformas digitais no Brasil

O Instituto de Economia da Unicamp sediou, recentemente, a aula “Plataformas digitais de trabalho no Brasil: dimensões e sentidos”, conduzida pelo professor Marcelo Manzano e pelo pesquisador Pietro Borsari. A atividade reuniu estudantes e docentes para discutir, sob diferentes ângulos, os impactos da plataformização sobre o mundo do trabalho e a economia contemporânea. A gravação da aula está disponível no vídeo abaixo.

Abrindo a exposição, Marcelo Manzano apresentou uma análise crítica da lógica que rege as empresas de plataforma, associando seu funcionamento à financeirização da economia e ao apagamento dos vínculos e responsabilidades tradicionais do capital. Para o professor, essas empresas se inserem como dispositivos centrais de um novo padrão de acumulação que privilegia o capital especulativo e transfere riscos operacionais para trabalhadores e empresas subordinadas.

Inspirado no conceito de “zonas cinzentas” proposto por autores franceses, Manzano argumentou que o valor das plataformas digitais reside justamente na sua capacidade de tornar opacas as relações de trabalho e de fugir dos marcos regulatórios clássicos. “Elas não apenas operam nesse ambiente ambíguo — elas o produzem”, afirmou. A aula detalhou como essas empresas se estruturam para maximizar a rentabilidade futura e conquistar monopólios de mercado, operando frequentemente com prejuízos planejados para eliminar concorrência e atrair capital de risco.

Na segunda parte da atividade, Pietro Borsari apresentou dados e desafios relacionados à mensuração do trabalho mediado por plataformas digitais no Brasil. Segundo o pesquisador, há um descompasso entre a velocidade de expansão desse modelo e a capacidade dos sistemas estatísticos em captar com precisão sua extensão. Borsari destacou que, embora o setor seja frequentemente associado ao transporte e à entrega de mercadorias, as plataformas têm se expandido para outras áreas, como saúde, educação e serviços domésticos, tornando-se cada vez mais difusas e difíceis de mapear.

Ambos os expositores enfatizaram que o fenômeno não representa um retorno a formas de exploração do passado, mas sim uma nova articulação entre tecnologia, desregulação e intensificação do trabalho. “Estamos diante de um modelo que combina precariedade com alta sofisticação técnica”, afirmou Borsari, ao argumentar pela necessidade de políticas públicas robustas e de novos instrumentos de regulação.

A atividade integra o esforço do Instituto de Economia e do Cesit para ampliar o debate público sobre as transformações recentes do mercado de trabalho, especialmente aquelas que desafiam os referenciais clássicos das relações laborais. A íntegra da aula pode ser assistida no vídeo abaixo.

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