O Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT), do Instituto de Economia da Unicamp, divulgou a edição especial do Boletim Trimestral sobre o Mercado de Trabalho, referente ao quarto trimestre de 2024. O documento, produzido pelas pesquisadoras Marilane Teixeira, Caroline Lima Oliveira e Clara Saliba, apresenta uma análise detalhada das dinâmicas do mercado de trabalho brasileiro, com foco nas desigualdades de gênero e raça.
A publicação se baseia nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e busca oferecer um panorama sobre a ocupação e as condições de trabalho no país. Entre os principais pontos abordados, destacam-se a taxa de participação na força de trabalho, a informalidade, os rendimentos médios e as dificuldades enfrentadas por diferentes grupos populacionais.
Desigualdade de Gênero e Raça no Trabalho
A edição especial do boletim enfatiza as disparidades persistentes entre mulheres e homens, além das diferenças entre trabalhadores brancos e negros. O levantamento revela que, embora a legislação brasileira preveja a igualdade de gênero no mercado de trabalho, a realidade segue distante desse ideal. Mulheres ainda enfrentam barreiras estruturais que as colocam em desvantagem tanto na taxa de ocupação quanto na remuneração média.
Os dados mostram que 91% dos lares compostos por responsáveis sem cônjuge e com filhos de até 14 anos são chefiados por mulheres, e 70% delas são negras. Esse cenário evidencia a sobrecarga de trabalho não remunerado que recai sobre as mulheres, especialmente as mais pobres. Segundo o levantamento, aquelas que dedicam mais horas ao trabalho doméstico não remunerado são as que recebem os menores salários. Em média, realizam 25 horas semanais de atividades domésticas, enquanto sua renda gira em torno de meio salário mínimo.
Participação na Força de Trabalho
A taxa de participação na força de trabalho no quarto trimestre de 2024 foi de 62,6%, ou seja, esse é o percentual da população em idade ativa que está empregada ou em busca de trabalho. Os números mostram diferenças regionais e de gênero. Nos estados do Sul e Sudeste, os homens apresentam taxas superiores a 70%, enquanto as mulheres, mesmo nessas regiões, não ultrapassam os 60%.
Outro aspecto analisado é a população fora da força de trabalho, que atingiu 66,1 milhões de pessoas. Entre as principais razões para não buscar emprego, destacam-se afazeres domésticos e cuidados com filhos ou familiares, uma justificativa predominante entre as mulheres. Enquanto 32% delas deixaram de procurar trabalho por essa razão, entre os homens esse percentual é de apenas 4%.
Desocupação e Informalidade
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,4%, sendo mais elevada entre mulheres e jovens. Entre trabalhadores de 18 a 29 anos, o desemprego alcançou 10,1%, com variações conforme a faixa etária e localização geográfica. No recorte de gênero, as mulheres enfrentam um índice maior de desocupação em todas as idades.
A informalidade, segundo a metodologia adotada pelo CESIT, atingiu 49,7% da população ocupada. O índice considera trabalhadores sem carteira assinada no setor privado e público, além de autônomos sem registro formal. Estados do Norte e Nordeste apresentam os maiores percentuais de informalidade, enquanto no Sul e Sudeste os índices são relativamente menores.
Diferença Salarial
Os dados do boletim indicam que o rendimento habitual médio no Brasil é de R$ 3.215,27, mas a disparidade entre homens e mulheres se mantém significativa. Enquanto os homens recebem, em média, valores mais altos, as mulheres enfrentam menores oportunidades de progressão salarial. No caso do Distrito Federal, onde há um maior dinamismo econômico, a renda média ultrapassa R$ 5.400,00, contrastando com estados do Norte e Nordeste, onde os salários são substancialmente menores.
Reflexões e Perspectivas
O boletim trimestral do CESIT evidencia que, apesar da recuperação parcial do mercado de trabalho nos últimos anos, as desigualdades estruturais continuam a marcar o cenário brasileiro. O crescimento da ocupação e da formalização do emprego não têm sido suficientes para reduzir significativamente as disparidades de gênero e raça, mantendo mulheres e trabalhadores negros em posições mais vulneráveis.
A publicação destaca que políticas públicas voltadas à equidade são essenciais para transformar essa realidade, exigindo esforços coordenados entre Estado, empresas e sociedade civil. A partir das estatísticas apresentadas, o estudo reforça a necessidade de ações concretas para reduzir as barreiras que impedem a plena inserção das mulheres e da população negra no mercado de trabalho.