Boletim trimestral revela desigualdades persistentes no mercado de trabalho brasileiro

O Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Unicamp divulgou seu boletim trimestral com dados do quarto trimestre de 2024, destacando desafios estruturais no mercado de trabalho, especialmente para mulheres e população negra. A análise, baseada na PNAD Contínua do IBGE, aponta disparidades persistentes em participação, desocupação, informalidade e rendimentos, reforçando a necessidade de políticas públicas direcionadas.

A taxa de participação (pessoas na força de trabalho em relação à população em idade ativa) revela diferenças marcantes: homens brancos lideram (76,8% em SC), enquanto mulheres negras têm os menores índices (40,4% no MA). A população fora da força de trabalho é majoritariamente feminina (42,8 milhões de mulheres contra 23,2 milhões de homens), com 70% das responsáveis por cuidados domésticos sendo mulheres negras. Entre os motivos para não buscar emprego, 32% das mulheres citaram afazeres domésticos ou cuidados familiares, contra apenas 4% dos homens.

A taxa de desocupação nacional foi de 6,2%, mas alcançou 9,1% entre mulheres negras, quase o dobro da registrada entre homens brancos (4,3%). Jovens de 18 a 29 anos são os mais afetados: 10,1% estão desempregados, com mulheres negras representando a maior parcela. A subutilização da força de trabalho (desocupados + subocupados + força potencial) chega a 23% entre mulheres negras, ante 9,3% entre homens brancos. Estados como Bahia e Alagoas registram taxas acima de 30% para mulheres.

Quase metade dos trabalhadores (49,7%) está na informalidade, segundo metodologia do CESIT. A taxa é mais alta entre negros (52,4%) e homens (56,7%), com destaque para estados do Norte e Nordeste, como Maranhão (70,1%) e Pará (67,8%). Mulheres negras são as mais vulneráveis: 51,9% estão em ocupações informais, contra 43,6% das brancas.

O relatório reforça que a expansão do mercado e a formalização não bastam para combater desigualdades históricas. “As ‘escolhas’ das mulheres são moldadas por arranjos familiares e condições materiais, não por livre decisão”, destacam as pesquisadoras. O cuidado não remunerado, que consome 25 horas semanais das mulheres, limita sua inserção laboral e perpetua ciclos de pobreza.

Os dados servem como alerta para a urgência de políticas que reconheçam interseccionalidade de gênero, raça e classe. Acesso a creches, divisão equitativa de tarefas domésticas e combate à discriminação no mercado são passos essenciais.

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