Um dos inúmeros paradoxos do atual debate sobre a questão da pobreza e da desigualdade no Brasil é a supervalorização do papel das políticas focalizadas de transferência de renda. Num país que há décadas ocupa as primeiras posições dentre as piores distribuições de renda do mundo e que há 25 anos apresenta pífias taxas de crescimento econômico, criou-se um inacreditável “consenso”, amplamente difundido e aceito pela opinião pública, segundo o qual bastam políticas dessa natureza para “erradicar” a pobreza e reduzir a desigualdade de renda. Essa visão, impulsionada pelas organizações internacionais de fomento, minimiza o papel do crescimento econômico nesse processo. Como veremos nos artigos aqui apresentados, estudos realizados pelo Banco Mundial chegam a explicitar que “o Brasil talvez não pareça precisar de crescimento para pôr fim à pobreza” (sic). Dessa perspectiva, os impactos do crescimento sobre o emprego e a renda do trabalho e seus reflexos na redução da pobreza e da desigualdade são negligenciados.
A recomposição do valor real do salário mínimo é vista como desnecessária e regressiva. As políticas sociais de caráter universal são tidas como instrumentos de “reprodução de privilégios”, posto que seus benefícios são apropriados pelos “ricos”.
Sem desmerecer a importância das políticas de transferência de renda – e alertando para o caráter emergencial que deveria orientar a implantação dessas ações – os autores reunidos nesse número de Carta Social e do Trabalho procuram contribuir para o debate público, chamando a atenção do leitor para as inconsistências e contradições de algumas dessas teses amplamente difundidas pelos meios de comunicação e ambientes oficiais e acadêmicos.
Esta edição foi editado por Eduardo Fagnani e Marcio Pochmann e conta com artigos de David José Nardy Antunes, Denis Maracci Gimenez, Eduardo Fagnani, Paulo Baltar, Eugênia Leone, Alexandre Gori Maia, Anselmo Luís dos Santos, Fabiano Garrido, Claudio Salvadori Dedecca, Rosângela Ballini, Alexandre Gori Maia, Walter Belik e Marcio Pochmann.