Ruth Costas | Publicado originalmente na BBC Brasil
Pela primeira vez o desemprego na região Norte igualou-se ao da região Sudeste na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, divulgada nesta terça-feira.
A região Norte foi a que teve maior redução em sua taxa de desocupação no último trimestre. Em relação ao mesmo período de 2013, o desemprego na região caiu 0,6 ponto percentual, passando de 7,5% para os atuais 6,9%. E em relação ao segundo trimestre a queda foi de 0,3 ponto.
Já no Sudeste, a taxa – de 6,9% – permaneceu praticamente estável em relação ao segundo trimestre de 2014 (6,9%) e ao mesmo período de 2013 (7%).
O levantamento – criado para substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) a partir de 2015 – ainda tem uma série histórica relativamente curta: ele começou a ser divulgado no primeiro trimestre de 2012.
Especialistas, porém, interpretam a convergência como um fenômeno mais amplo e longevo de redução das desigualdades regionais do mercado de trabalho, que seria impulsionado também por uma queda do desemprego na região Nordeste, como explica o economista Marcelo Manzano, da Unicamp.
“Por um lado, temos uma melhoria da renda e da realidade social das famílias do Norte e Nordeste: os jovens estão atrasando sua entrada no mercado para estudar e os idosos estão conseguindo se aposentar mais cedo, o que reduz o número dos que procuram trabalho”, diz Manzano.
“Por outro, a economia dessas duas regiões vêm crescendo mais rapidamente que a do Sudeste, o que tem ajudado a expandir a abertura de postos de trabalho. Já temos estudos mostrando, por exemplo, que profissionais qualificados formados no Sul e Sudeste estariam migrando para os Estados do Norte e Nordeste em busca de boas oportunidades de emprego.”
A PNAD Contínua é feita trimestralmente em 3,5 mil municípios brasileiros.
Segundo os dados do 3º trimestre de 2014, a taxa de desocupação no Brasil foi de 6,8% – o que representa estabilidade em relação ao 2º trimestre deste ano (6,8%). Na comparação com o mesmo período de 2013, a queda foi de 0,1 ponto percentual.
A região Nordeste ainda é a que apresenta a maior taxa de desocupação do país – lá, 8,6% da população economicamente ativa está sem trabalho.
“Ainda há um grande contingente de população nas áreas rurais nordestinas disponível para o trabalho, o que acaba pressionando o indicador da região”, explica Manzano. “É o que no jargão econômico chamamos de excedente estrutural de mão de obra.”
No último trimestre, porém, essa foi a segunda região com maior queda no índice de desemprego em relação a igual período de 2013. A redução foi de 0,4 ponto percentual. E também houve queda de 0,2 ponto em relação ao segundo trimestre de 2014.
O Sul ainda é a região que apresenta o menor nível de desemprego: 4,2%. E no Centro Oeste a taxa também é tradicionalmente mais baixa em relação a média nacional. No último trimestre, ficou em 5,4%.
“É claro que, no atual cenário de desaceleração, nenhuma região se destaca como um oásis de novas oportunidades de trabalho”, diz Leonardo de Souza, diretor executivo da Michael Page, empresa de recrutamento especializada em executivos de nível médio e alto.
Souza diz, porém, que nos últimos anos a empresa de fato tem notado um aumento da procura por profissionais qualificados para trabalhar no Norte e Nordeste do país.
De olho nesse mercado, a Michael Page abriu um escritório em Recife há pouco mais de dois anos e agora prepara a inauguração de um segundo ponto de operações em Salvador.
“Até pouco tempo, os executivos e profissionais que estavam dispostos a ir para o Norte ou Nordeste procuravam mudanças em seu estilo de vida – morar perto da praia, pegar menos trânsito. Agora, eles estão se mudando pensando em impulsionar a carreira, porque sabem que essa é uma fronteira importante para suas empresas.”
Para Rodrigo Soares, diretor da empresa de recrutamento e seleção Hays, em um momento de desaquecimento da economia, os profissionais dispostos a mudar de cidade ou Estado costumam ter mais chance de encontrar um bom emprego.
Ele diz que uma pesquisa feita pela Hays com 8 mil trabalhadores em 500 empresas mostrou que o índice dos que avaliam oportunidades fora de seu atual local de trabalho já passa dos 60%.
“Outras regiões como o Nordeste de fato estão começando a entrar no radar dos trabalhadores qualificados”, diz ele.
“Mas mesmo com o desaquecimento, o Sudeste ainda é um centro importante de geração de emprego em função da força de sua indústria, setor de serviços e podencial de consumo. Em termos quantitativos, muitas portunidades de emprego ainda estão nessa região.”