Em uma entrevista concedida ao jornalista Mario Vitor Santos, da TV 247, Márcio Pochmann, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e professor aposentado do IE Unicamp, discutiu sobre as transformações socioeconômicas do Brasil, a importância dos censos agropecuário e econômico, além de questões ligadas à evolução da demografia brasileira. Pochmann destacou a relevância do ciclo político democrático para a melhoria das condições de vida da população brasileira, evidenciando que cerca de 40% dos brasileiros se beneficiam de políticas públicas que mitigam as adversidades sociais, um reflexo direto da atuação democrática no país.
Durante a entrevista, o presidente do IBGE abordou o esvaziamento das indústrias brasileiras e a consequente reprimarização da economia, que direciona o país a um papel mais passivo na divisão internacional do trabalho, tornando-se um grande importador de bens e serviços digitais. Esta situação, segundo ele, contribui para a redução da qualidade dos empregos disponíveis no mercado nacional.
Pochmann também ressaltou a necessidade de reavaliação e renovação das pesquisas industriais, como o censo e a Pesquisa Industrial Anual (PIA), para que sejam incluídas perguntas mais qualitativas que ajudem a compreender a regressão industrial vivenciada pelo país. Ele criticou o abandono dos censos econômicos pelo Brasil, destacando que o último censo econômico realizado foi em 1985 e que atualmente o país se baseia em cadastros para entender sua estrutura produtiva.
A conversa tocou ainda na temática do banditismo social, com Pochmann definindo-o como atividades ilegais que surgem à margem da legislação e que muitas vezes oferecem uma forma de assistência social na ausência do Estado. Ele ilustrou essa realidade com exemplos práticos, refletindo sobre como o crime organizado acaba por se inserir nas lacunas deixadas pela ausência de políticas públicas eficazes.
Um outro ponto discutido foi a preparação para o próximo censo agropecuário, planejado para entrar em campo em 2026. Pochmann destacou a importância desse censo para compreender melhor a realidade das áreas rurais brasileiras e mencionou a complexidade de realizar tal levantamento em um país de dimensões continentais com significativa diversidade.
Por fim, Pochmann apontou a necessidade de um sistema estatístico mais integrado no Brasil, que possibilite uma visão holística e detalhada da realidade socioeconômica do país. Ele defendeu a ideia de um debate nacional para estabelecer um novo regramento estatístico que permita o pareamento de dados de diferentes fontes, o que, segundo ele, melhoraria significativamente a capacidade de planejamento e implementação de políticas públicas.
Assista à entrevista completa abaixo: