Fome e mercado de trabalho: reflexos materiais das estruturas de exploração e opressão racial e de gênero

Clara Saliba e Gabriel Lucena

Dados recentes revelam cara da fome

No Brasil, a fome tem cor, gênero e endereço. Ela está presente em mais de um terço dos domicílios chefiados por mulheres negras e em cerca de um quinto dos chefiados por homens negros. Os dados, disponibilizados no fim de junho pelo Suplemento II – Raça e Gênero do II VIGISAN (Inquérito Nacional sobre a Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia do Covid-19 no Brasil) trazem o devastador retrato da volta da insegurança alimentar e nutricional nos lares brasileiros: a estimativa é que, entre o fim de 2021 e o início de 2022, 33 milhões de cidadãos brasileiros não tinham o que comer, apresentando a chamada insegurança alimentar grave. Ao se considerarem as formas mais leves de insegurança alimentar (IA), são 125,2 milhões de pessoas com alguma restrição na segurança alimentar e nutricional: cerca de 60% dos domicílios brasileiros. A estimativa representa um crescimento considerando o estudo do grupo de pesquisa Alimento para Justiça, de 2021, que estimou que 59% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar durante a pandemia de Covid-19. Em 2018, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares, o percentual era de 36,7% (Galindo et al, 2021).

O II VIGISAN foi feito por amostragem e entrevistou 12.645 domicílios em 577 municípios, entre novembro de 2021 e abril de 2022. A averiguação do estado de IA dos domicílios foi possível a partir da aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA)3, que contém oito perguntas relativas à experiência dos entrevistados nos três meses anteriores à pesquisa com relação à compra de alimentos, regularidade de refeições, disponibilidade orçamentária, etc. As respostas afirmativas marcam pontos. A segurança alimentar corresponde aos domicílios que não tenham respondido de forma afirmativa nenhuma das perguntas da EBIA. A partir de uma resposta afirmativa, pode-se identificar algum nível, seja leve, moderado ou grave, de insegurança alimentar. O Inquérito considerou 6 ou mais respostas afirmativas como caso de IA grave.

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