Krein analisa o esgotamento da escala 6×1 e propõe novo pacto social no podcast Conexão

O professor José Dari Krein, do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Cesit, participou do podcast Conexão a Unicamp para discutir os limites da escala 6×1 e o movimento social em torno do direito ao descanso semanal. A entrevista, conduzida pelos jornalistas Cristina Segato e Paulo San Martin, está disponível na íntegra no vídeo abaixo.

Krein destacou que a demanda por descanso remunerado aos domingos, historicamente associada à luta por dignidade no trabalho, ganhou novo fôlego com a campanha “Vida Além do Trabalho” (VAT). Defendida nas redes por trabalhadores do setor de serviços, a pauta teve forte adesão da juventude e das mulheres, especialmente aquelas que atuam em supermercados, farmácias e no comércio em geral — setores onde a jornada 6×1 é predominante.

Segundo o professor, o avanço da globalização e do neoliberalismo nas últimas décadas permitiu uma reorganização das jornadas em função da lógica de mercado. Isso resultou na ampliação do trabalho aos fins de semana, acirrando desigualdades e precarizando relações laborais. “O problema é concreto e está ligado à desorganização da vida pessoal, à exaustão física e à ausência de tempo para outras dimensões da existência”, afirmou.

Krein argumenta que a defesa do descanso aos domingos e a redução da jornada não são apenas bandeiras sindicais, mas parte de um debate mais amplo sobre o modelo de sociedade. “A economia cresceu, a produtividade aumentou, e é insustentável que o tempo livre não tenha acompanhado esse processo”, disse. Para ele, a manutenção da jornada 6×1 interessa prioritariamente às grandes empresas que buscam flexibilidade máxima na organização do trabalho. “Quem perde é o conjunto da sociedade: trabalhadores, famílias, o sistema de saúde e a qualidade das relações sociais.”

Ao responder às críticas de setores empresariais que associam o fim da escala 6×1 a risco de desemprego ou inflação, Krein lembrou que políticas semelhantes, como a valorização do salário mínimo, também foram alvos de resistência, mas resultaram em aumento do consumo, formalização e inclusão social. No caso da escala 6×1, ele aponta que a necessidade de manter o mesmo nível de atendimento exigirá mais contratações, o que pode estimular o mercado de trabalho.

O professor ainda relacionou o crescimento da pauta à insatisfação crescente com os sentidos atribuídos ao trabalho em uma sociedade marcada por intensas cobranças e esvaziamento das expectativas de realização pessoal. “É uma bandeira estratégica para repensar o pacto social. Trabalhar menos e viver melhor não é utopia, é necessidade.”

A entrevista completa está disponível no vídeo abaixo.

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