Ruptura, retrocesso e desigualdade: o que os dados revelam sobre o Brasil entre 2010 e 2022

Entre os Censos Demográficos de 2010 e 2022, o Brasil passou por profundas transformações socioeconômicas, marcadas por avanços interrompidos, crises políticas e o agravamento das desigualdades. Uma análise publicada nos Cadernos de Pesquisa NEPP examina esse período, destacando como mudanças nas políticas públicas e cenários econômicos distintos impactaram a vida da população.

Em 2010, o país vivia um momento de expansão econômica, com redução do desemprego, queda na pobreza e políticas sociais ativas, como o Bolsa Família e programas de acesso ao ensino superior. Esse cenário refletia os governos Lula e Dilma, com investimentos em inclusão e desenvolvimento social.

Já em 2022, o Brasil enfrentava as consequências de uma série de crises: a recessão pós-impeachment de Dilma Rousseff (2016), os cortes em políticas sociais durante o governo Temer e o agravamento da pobreza e do desemprego no governo Bolsonaro, somados aos efeitos devastadores da pandemia de COVID-19. O resultado foi um aumento da fome, da desigualdade e do desmonte de programas essenciais.

A pesquisa, baseada em dados da PNAD Contínua (IBGE) e outros estudos, revela:

  • Economia e Trabalho: Após um breve crescimento até 2014, o país entrou em recessão (2015–2016), seguida de estagnação (2017–2019) e crise pandêmica (2020–2022). A renda domiciliar caiu, e as mulheres negras foram as mais afetadas pelo desemprego e pela precarização.
  • Pobreza e Fome: A extinção e o enfraquecimento de políticas de transferência de renda, combinados com a crise econômica, levaram ao aumento da insegurança alimentar e da população em situação de rua.
  • Educação: Apesar de avanços como a redução do analfabetismo, a década foi marcada pela estagnação. Cortes orçamentários (como a Emenda Constitucional 95, do Teto de Gastos) e o desmonte de programas como o FIES e as cotas prejudicaram o acesso ao ensino superior e técnico.

O estudo destaca que a mudança no modelo de governo, de políticas progressistas para uma agenda conservadora a partir de 2016, teve impactos profundos. O desmonte de programas sociais, a falta de investimentos em áreas estratégicas e a crise econômica ampliaram as desigualdades, revertendo conquistas anteriores.

Os dados mostram que o Brasil retrocedeu em diversas frentes entre 2010 e 2022. Enquanto a primeira metade da década foi marcada por inclusão e redução das desigualdades, os anos seguintes trouxeram estagnação, empobrecimento e o retorno da fome em escala alarmante.

A pesquisa do NEPP serve como um alerta: sem políticas públicas consistentes e investimentos em proteção social, o país corre o risco de aprofundar ainda mais as desigualdades que marcam sua história. Com a divulgação dos microdados do Censo 2022, novas análises poderão detalhar ainda mais esses efeitos – e, quem sabe, apontar caminhos para reverter esse cenário.

Leia a íntegra no Cadernos de Pesquisa NEPP: https://nepp.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/57/2025/03/CadPesq_97.pdf

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